Definir inteligência é um problema devido aos diferentes paradigmas conceituais, posturas político-ideológicas e fatores educacionais envolvidos. Existem dezenas de armadilhas que podem nos levar a descriminações raciais infundadas, já demonstradas historicamente por diversos acontecimentos como o racismo, o segregacionismo nazi-fascista, a supremacia ariana dentre outros.
Os problemas surgem quando se admite que os homens possuem diferentes níveis de inteligência sem se levar em conta o histórico das oportunidades. Isso favorece descuidos como o de concluir que tais diferenças são imutáveis, e, pior, deixa o caminho livre para a discriminação tornando assim natural uma distribuição desigual de direitos apenas em função destes desníveis.
É impossível definir percentualmente qual o grau de influencia dos fatores genéticos e culturais no desenvolvimento da inteligência, ou seja, inteligência é definida por uma parte genética e outra cultural ou meio ambiente. Alem disso é difícil de acreditar que algum dia seja possível mesurar tais proporções.
Sem dúvida que ambos os fatores são importantes, mas com certeza os fatores culturais e ambientais (nutrição, afeto, estímulos) são muito mais importantes, até mesmo decisivos do que os genéticos.
Podemos afirmar isso, pois mesmo os indivíduos acometidos por alguma deficiência de origem comprovadamente genética e que apresentem um comprometimento mental, demonstram diversos níveis de inteligência. Por exemplo, cientificamente já foi provado que não existem graus de Síndrome de Down e que as diferenças de desenvolvimento decorrem apenas das características individuais, isto é, educação, meio ambiente, estímulos, carinho etc, todos os fatores exógenos. Mesmos portadores do cromossomo extra no par 21, os indivíduos com síndrome de down possuem desenvolvimentos intelectuais e motores diferentes.
Com isso demonstramos que o fator cultural é determinante, alem disso é único que realmente temos influencia, já que não podemos fazer nada quanto ao fator genético.
No século passado foram realizados alguns experimentos onde foram realizadas inseminações artificiais em mulheres com o Q.I. (quociente intelectual) acima de 140, com o sêmen de homens igualmente superiores, alguns Prêmios Nobel e outros “gênios” foram doadores, com o objetivo de favorecer o nascimento de crianças igualmente inteligentes. Mas os experimentos foram abandonados devido ás questões éticas aliadas ao péssimo resultado obtido, onde os filhos destes “superpais” nasciam e se desenvolviam normais (Q.I. 100) e alguns até com o Q.I. abaixo da media.
Por outro lado pessoas superdotadas também necessitam de uma ambiente cultural e psicológico especifico para se desenvolverem, caso este não seja devidamente fornecido a probabilidade de desajustes sociais e pessoais são muito grandes.
Com isso provamos a superior importância do fator cultural no âmbito do desenvolvimento da inteligência.
Um dos fatores exógenos essenciais para o desenvolvimento da inteligência é o conhecimento. De nada adianta você possuir uma Ferrari na garagem se você não possuir o combustível correto para abastecê-la. O conhecimento é o combustível da inteligência
Como já constatou Elaine Rich coautora do livro “Inteligência artificial” “Um dos poucos resultados concretos obtidos nos primeiros vinte anos da pesquisa de inteligência artificial, é o fato de que a inteligência requer conhecimento”.
E apesar de existirem centenas de teorias e formas sobre como obter conhecimento, a mais simples, eficaz e democrática é através da leitura. Leia que você adquire conhecimento. Simples. Não gosta de ler? Então aprenda a conviver com as suas limitações. E quando por acaso lhe chamarem de ignorante, não interprete isso como uma ofensa, mas como um diagnostico. Já que você de livre e espontânea vontade decidiu abrir mão de desenvolver a sua inteligência.
Você pode até aceitar e conviver com a sua decisão, mas isto não significa que as outras pessoas devam fazê-lo.
Existe um mito, por exemplo, que diz que as pessoas só usam dez por cento de seus cérebros, ele é chamado de “mito dos dez por cento” e aparece o tempo todo, na mídia, nos livros, nas conversas. Claro que é uma grande bobagem, uma falácia, mas que muitas pessoas ainda acreditam por puro comodismo em se comprometer no desenvolvimento da sua própria inteligência, então passam a acreditar que com um passe de mágica um dia ele poderá utilizar mais do que os 10 % do seu cérebro e com isso irá ficar mais inteligente ou irá adquirir poderes paranormais.
Mas técnicas de pesquisas de imagens do cérebro como TEP (Tomografia de Emissão de Pósitrons) e RMF (Ressonância Magnética Funcional) mostram claramente que a grande maioria do cérebro não fica em repouso. Pelo contrário, apesar de algumas funções menores usarem apenas uma pequena parte do cérebro de cada vez, qualquer atividade ou padrão de pensamento com um mínimo de complexidade (como conversar ou ler um simples texto de jornal) utilizam muitas partes do cérebro ao mesmo tempo. Do mesmo modo que as pessoas não usam todos os músculos ao mesmo tempo, elas também não usam todo o cérebro ao mesmo tempo. Para atividades isoladas, como comer, assistir TV, ou fazer amor, se usa apenas algumas partes do cérebro.
Pode-se observar isso com pessoas sofreram algum tipo de traumatismo craniano que tenha afetado o cérebro as deixando com sequelas. Alguém já ouviu um médico dizer: “Foi muita sorte, pois esta lesão atingiu apenas àquela parte do cérebro que ninguém usa”.
Na verdade esse mito se tornou uma crença que, apesar de não ter nenhuma evidência que a suporte, é tida como verdadeira porque sua constante repetição muda à maneira como vemos o mundo e a vida.
Mas as pessoas que acreditam em tal crença devem fazer parte do mesmo grupo acima que se recusa a ler e assim adquirir conhecimento, mas por outro lado acreditam em tudo que a televisão apresenta. As mesmas pessoas que tem dificuldade de desenvolver o seu próprio pensamento lógico e por isso se apropriam de opiniões alheias muitas vezes sem
comprovação. São verdadeiros “papagaios de pirata” repetem o conhecimento de outrem sem saber aprofunda-lo ou questiona-lo. Um prato cheio para os gurus de plantão.
Aprender a pensar é um dos grandes diferenciais e desafios deste milênio, e isso somente será possível se desenvolvermos adequadamente a inteligência.
Quanto mais o mundo se diversifica, mais as relações sociais se tornam complexas e mais as pessoas têm dificuldade de sistematizar ideias, organizar conhecimentos e formular um pensamento claro.
O mundo atual, no entanto precisa muito de pessoas que formulem o seu pensamento a partir da realidade, no contato permanente com a humanidade real do dia a dia. Somos bombardeados por uma cultura de massa especializada em banalizar informações e, diluir o conteúdo das questões a tal ponto que não seja mais necessário pensar.
Como dizia Confúcio a milhares de anos atrás “Aprender sem pensar é tempo perdido”.
Esse pensamento sendo entregue totalmente digerido impede o desenvolvimento da inteligência. O cérebro necessita de enigmas para se exercitar e desenvolver.
Assim nasceu a neuróbica, modalidade criada e desenvolvida por Lawrence C. Katz, professor de neurobiologia do Centro Médico da Universidade de Duke e pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes, nos Estados Unidos, se baseia num estudo de informações sobre a organização do cérebro humano e como determinadas atividades produzem nutrientes naturais do cérebro. Com este tipo de exercício, o cérebro se torna mais rápido e flexível, permitindo a realização de qualquer tarefa mental, mesmo que esta pareça um desafio. Enfim a neuróbica propõe exercícios para desenvolver o cérebro.
Só poderemos usar a inteligência com cem por cento da sua força onde houver cem por cento de interesse em desenvolvê-la.
Partindo da premissa da inteligência coletiva desenvolvida o filosofo francês por Pierre Lévy afirma que “o saber não é nada além do que as pessoas sabem”, mas saber disso não é suficiente, é preciso compreender que “ninguém sabe tudo”, mas ao mesmo tempo, “todos sabem alguma coisa”, e que o conhecimento completo não se encontra fechado na cabeça de ninguém, mas, “todo o saber está na humanidade”, a qual, é a gigantesca coletividade.
Somente através da leitura dos mais diversos autores e assuntos nos permite explorar o que Lévy chamou de “…o saber da humanidade…” para que assim possamos desenvolver adequadamente a inteligência.
“Numa época em que as pessoas se preocupam cada vez mais em evitar o desperdício econômico ou ecológico, parece que se dissipa alegremente o recurso mais precioso, a inteligência, recusando-se a levá-la em conta, devolvê-la e empregá-la” diz Lévy.
Sob essa concepção Lévy alerta ao que se percebe hoje, é que desde o boletim escolar com suas estruturas de avaliações aos métodos de reconhecimentos qualitativos das empresas, e em tudo o que se diz ser método de avaliação ou reconhecimento das qualidades e inteligências humanas, o que verdadeiramente existe é uma “organização da ignorância sobre a inteligência das pessoas”.
Entramos em uma era onde a tendência é, desenvolva a sua inteligência ou saia do caminho.
Autor
Roberto Recinella
Fonte : Administradores