(Certa feita, no Canadá, aonde 3 de nós íamos muito seguidamente, listei quase 20 tópicos e pedi aos gestores locais que identificassem os 6 que representavam nosso comportamento. Foi uma experiência fantástica. Quase todos acertaram – baseados apenas na convivência que tinham tido conosco!)
Numa das rodadas de planejamento, cada um de nós foi encarregado de escrever um texto sobre uma questão crítica.
Coube-me o tema tecnologia.
Eu estava trabalhando no assunto quando, numa comprida noite de aeroporto, encontrei o professor Falconi, e fomos agraciados com o jantar que, naquela época, as empresas ofereciam como compensação por atrasos maiores.
Durante o longo tempo que tivemos, pedi-lhe uma opinião sobre o tema.
Lembro até hoje dos detalhes de sua explicação.
Já contaminado pelo TQC, o professor não era, mais, um tecnólogo na área siderúrgica.
Ele me disse:
– “em primeiro lugar, ensina a todos os operadores o uso das 7 ferramentas da qualidade. Eles resolverão a maior parte dos problemas que tiverem”.
Com gestos, imitou que estava puxando uma corda, afastando-a da borda da mesa.
– “Os problemas vão se resolvendo, a corda vai andando. Pode ser que, em algum caso, ela tranque. Neste momento, os gestores devem saber usar as 7 ferramentas administrativas da qualidade”.
Se eu alguma vez eu consegui fazer uma perfeita cara de ponto de interrogação, foi naquele momento.
– “Se a cordinha trancar novamente, então, chama um especialista em tecnologia. Por mais que cobre, ele será muito barato, porque resolverá um problema”.
Era isso.
Para mim, foi uma lição profunda, e impactante.
Naquele momento, eu era diretor corporativo do nosso desenvolvimento tecnológico, e tinha 468 projetos que minha pequena equipe conduzia, em trabalho conjunto com técnicos de todas as empresas, em pequenos grupos.
Era um trabalho extremamente gratificante: estávamos no limiar do nosso conhecimento, buscando estender a cerca do conhecimento para um pouco mais além.
Nossa motivação básica era descobrir novas tecnologias, e encontrar formas de aplicá-las em nossas plantas.
Mais ou menos como indicado na coluna ANTES, da figura 6.2.
Tínhamos uma ficha para controlar cada projeto, e o classificávamos em 5 níveis de prioridade:
p0: recuperar atraso!
p1: com data para concluir;
p2: não deixa parar;
p3: faz, se der;
p4: larga-de-mão, não gasta tempo com isto, não vale a pena!
O nome do programa era PDTec (Programa de Desenvolvimento Tecnológico). Fomos muito eficientes, e tivemos alguns resultados magníficos.
Mas nossa eficácia era desastrosa.
Na realidade, estávamos, em todos os campos, adquirindo conhecimento – muitas vezes, rigorosamente inútil. |
Num certo momento, fizemos uma avaliação dos projetos p0 e p1: eram algumas dezenas.
A lista cabia nas linhas duma folha de papel almaço, quadriculada.
Para cada projeto, desenhávamos duas barras horizontais.
Uma indicava, na moeda da época (dólar, a moeda brasileira era inexpressiva), o potencial de ganho; outra, por dentro dela, em escala, a probabilidade de êxito que vislumbrávamos (fig. 6.3).
As estimativas eram expeditas; nós desenvolvêramos um algoritmo bem prático para fazê-las (*). Embora mal fundamentadas, do ponto de vista científico, eram honestas, e representavam o nosso melhor conhecimento sobre cada tema.
Uma delas resultou escandalosamente muito maior do que as demais.
Quando a avaliação ficou pronta, nossas vidas mudaram.
Resolvermos nos atirar de corpo e alma no TQC.
A nossa razão de existir mudou (ver coluna DEPOIS na fig. 6.2)
Movidos pela percepção do vértice superior, decidimos passar do conhecimento para a gestão.
Este caminho nos proporcionou uma visão diferenciada da importância da tecnologia, e somente alguns anos depois é que nos demos plena conta da importância da sinergia entre os dois vértices inferiores.
(*) potencial se baseava em perguntas como
- funciona?
- dará resultado?
- haverá rejeição?
- requer melhorias?
- outros usam?
e a facilidade de implantação em
- é barato?
- é demonstrável?
- ele entenderá?
- ele quer?
- ele está pedindo?
O algoritmo de estimativa de probabilidade de êxito é um bom exemplo do tipo de ferramentas práticas que desenvolvíamos para orientar nossas decisões.
Na figura 6.5, reproduzimos o caso da análise de um equipamento de descarga de sucata.
Adotamos, no caso:
ff= (fu= 0,9) x (fd= 0,7) = 0,63
fp= (ft= 0,7) x (fo= 0,2) = 0,14
O ganho de 80 (mil U$/mês) ficou reduzido, para fins de classificação do projeto, para 80 x 0,63 x 0,14 = 7
Nada científico, só bom senso para ajudar a decidir…
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