Administrando o estoque

Figura 4.1

O conhecimento é gerado como consequência da busca de soluções para problemas reais, ou de um processo estratégico de mapeamento de Centros de Saber e Geração de Novos Conhecimentos. Em ambos os casos, ele só terá valor no momento em que for utilizado, de forma consistente, pelos operadores. Uma forma de melhorar a disponibilidade deste acervo é a sua Estocagem em  Centros de Conhecimento, internos à nossa organização.

Os gestores de pacote dum orçamento matricial são um bom exemplo de Centros de Conhecimento Interno – de tanto lidar com determinadas contas do orçamento, acabam se tornando especialistas no assunto.

Empresas que fazem data-mining, cada vez mais importantes, no moderno marketing B2C (business-to-consumer), começam acessando dados públicos, conhecidos por todos (IBGE, Receita Federal, etc..).

Seu valor diferenciado virá, com o tempo, através dos bancos de dados que tiveram que montar, ao realizar determinadas pesquisas.


  No decorrer dos módulos seguintes apresentamos e discutimos diversos casos em que vivenciamos a implantação e uso de Estoques de Conhecimento. De uma forma geral, estes Estoques podem estar contidos em:
  • Cérebros de Pessoas, principalmente especialistas, consultores;
  • Publicações, tais como manuais, procedimentos, em papel ou outras formas;
  • Softwares;
  • Hardwares, inclusive máquinas operatrizes.

  Já tratamos, anteriormente, dos 7 degraus que impedem que o conhecimento disponível se transforme em valor. O caso da prensa-tesoura da Siderúrgica Cearense foi emblemático. Não havia recursos para adquirir uma prensa-tesoura de verdade, que se paga em poucos meses, em qualquer aciaria que use este insumo, na forma como ele está disponível, no Brasil. Assim, o Gerd Funcke nos pediu para projetarmos uma prensa pequena – capaz de amassar uma geladeira grande – que depois, quando adquiríssemos a prensa grande, seria utilizada em pequenos sucateiros, como equipamento móvel. A prensa foi projetada, fabricada e fornecida no prazo. Ela seria capaz de amassar uma geladeira grande, até um perfil H de 6” – atendia ao que nos fora pedido. Mas, como garantir que ninguém colocasse, num dia desses, uma peça mais robusta o que o que tínhamos assumido no projeto? A maneira usual é colocar esta informação no manual do equipamento. Achamos que não bastava: colocamos observações em letras garrafais nos desenhos, que, afinal, são mais manuseados do que o manual. Melhor: pintamos uma advertência no corpo da própria prensa.  Corria o ano de 1982, e a lei de Murphi já estava em vigor. Colocaram uma peça mais forte do que o especificado, e a tampa da prensa saltou da carcaça. Lição aprendida, óbvia: o sistema hidráulico não deveria ter força para auto-destruir o próprio equipamento!
  O conhecimento funciona melhor se estocado nos equipamentos, do que guardado em publicações ou cérebros humanos…
 
  Casa de ferreiro, espeto de pau. Durante 3 anos morei em Santa Cruz, naquela época mais para cidade do interior do que bairro do Rio de Janeiro. Eu brincava dizendo que era a cidade com maior capita per renda que eu conhecera até então. Num carnaval, passamos o feriadão em viagem e, quando voltamos, encontramos a casa toda revirada. Tínhamos sido visitados pelos amigos do alheio. Quando entrei no meu quarto, ao ver todos os nossos objetos jogados no chão, minha primeira preocupação foi traduzida por uma exclamação: – “Meu livro preto ?!” Foi a piada que correu, na semana seguinte, entre meus colegas mais próximos. O “livro preto” era o meu bem mais precioso….
  O livro preto era uma agenda tamanho A5, com páginas finas, no qual eu ia registrando, em letras miúdas, a tremenda quantidade de conhecimento que me era demandada em minha nova função, a todo o instante. Eu era um engenheiro civil-eletricista, que precisava comandar uma área técnica com as mais diversas áreas de conhecimento, ao mesmo tempo que discutir aspectos de legislação, layouts, capacidades de produção, níveis de temperatura… enfim, dezenas de novos conhecimentos eram requisitados, diariamente, e a memória, decididamente, não suportava esta demanda. Até porque me faltava o principal, que eram referências às quais eu pudesse agregar os novos conhecimentos, afim de facilitar a sua recuperação. O meu mecanismo de defesa era registrar tudo no meu livro preto. Lá estavam tabelas de conversão de Unidades, capacidades de equipamentos, preços de peças, layouts, gráficos e fluxogramas cuidadosamente desenhados com letras pequenas e traço fino… O que o meu livro tinha de diferente é que eu procurava escrever o mínimo de texto, usar o máximo de informação analógica. Assim, em vez de escrever “empilhadeira” eu desenhava um ícone duma, ao lado dos valores de capacidade de carga e preço dos diversos modelos. É que eu descobrira que, além de ser mais rápido de encontrar o que eu queria, ao fazer a busca o meu cérebro ia sendo realimentado pelos desenhos sobre os quais eu passava… No final, eu andava sempre com 3 livrinhos debaixo do braço, dois para registros tecnológicos e um para anotar resumo de conclusões importantes de reuniões ou entrevistas. Revendo os livrinhos que guardei, com carinho, me dou conta de como eu estava, na ocasião, submetido a uma tremenda pressão que me exigia ter, na ponta da língua, tantas informações de tantas naturezas….
  Lidando com japoneses, mais tarde, me dei conta de como a sua escrita baseada em símbolos permite armazenar muito mais dados por cm2 de papel, e como ela deve facilitar, para eles, o processo de busca de informações…   banner_instrutor3]]>

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