De consultor japonês

O Maradona estava começando a despontar no Argentino Juniors, o que levou o GRÊMIO a convidar este clube para fazer um jogo amistoso em Porto Alegre. Havia muita gente no estádio, todos queríamos ver o novo astro do futebol mundial. Logo de início, um zagueiro tricolor deu duas entradas fortes no craque argentino – e este ficou o resto do jogo ciscando no meio do campo… 
Me lembrei desta história quando, viajando ao lado do nosso consultor japonês, o senhor Miyauchi me comentou, intrigado: 
 – “Eu custo a entender vocês, brasileiros. Pagam caro para eu vir para cá. E, em vez de me fazerem perguntas, para que eu possa ajudá-los, tentam encobrir suas falhas, para que eu não as descubra. Muito estranho…” Noutra oportunidade, um japonês ministrava um curso em Minas, e nos ensinava a … fazer uma análise de causas, usando a prosaica espinha de peixe…
Explicou-nos que na cabeça da espinha se pode escrever um problema, ou colocar uma caixinha maior, em que, além do problema, se mencionam algumas orientações que facilitem a análise. E nos ensinou:
-“ Cada grupo pode optar se recebeu a incumbência de um bom chefe ou dum mau chefe. Se o chefe é bom, ele não passa apenas o problema: dá algumas indicações sobre o caminho a seguir. Afinal, ele ganha mais dinheiro por que tem mais informação e mais experiência do que vocês…”
A certa altura, um dos participantes perguntou que ferramenta da qualidade se deveria utilizar sempre que estivéssemos lidando com uma determinado tipo de problema. A resposta:
-“ Eu adoro vir ao Brasil. Porque adoro comer mamão. Mamão é uma fruta muito cara no Japão. E é engraçado que ás vezes ele vem mole, então eu uso a colher: se vem mais duro, uso a faca e o garfo… Ah, a propósito: alguma outra pergunta?”
Ele poderia simplesmente ter dito “depende”. Só que eu não lembraria da resposta mais de vinte anos depois…
Numa experiência que se estava organizando na laminação de bobinas de aço, se precisava dividir um aro desta bobina em 26 partes, medir as características de cada uma, para depois tirar uma conclusão sobre o processo.
Um dos nossos imediatamente sugeriu dividir por 24, é muito mais rápido.
-“ Vamos fazer com 26, que eu sei que dá certo. Com 24, eu não sei se dá”.
Muitos anos depois, descobrimos que o número 26 se baseava em longas pesquisas que levavam em conta o recobrimento das espiras, uma sobre a outra, no laminador. O nosso instrutor certamente não sabia o porque: simplesmente, obedecia o padrão.

Chama-se SHU – HA – RI : primeiro, obedece o mestre; depois, tenta entender o porque; só depois, te mete a inventar novidades.


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