– o conhecimento de que necessito, como operador, para resolver um problema real, quase sempre, existe;
– o difícil é eu estar de posse dele, neste momento.
Neste caso, entenda-se operador como a pessoa que está diretamente em contato com o cliente ou com o produto. O conhecimento pode estar com meu colega, com meu supervisor, com meu consultor, com algum especialista, no meu estado, no meu país, no mundo…Mas, aqui e agora, quem precisa dele, para torná-lo útil, sou eu!Um dos repositórios do conhecimento são os livros. Se todo o operador tivesse acesso imediato a todo o conhecimento já registrado em livros, no momento em que deles necessita, a grande maioria dos problemas estaria resolvida.
O Google faz esta conexão de uma forma admirável.
Eles desenvolveram uma série (seriam 1600) critérios para descobrir o que Você, que está procurando algo, necessita, precisamente – a partir de uma simples palavra chave!
Quanto mais uso o Google, mais ele sabe o que quero. Ele simplesmente me conhece melhor. O que é um produto fantástico, para outras entidades, que estão interessadas em saber como penso…
(Talvez esteja muito próximo o dia em que todos os livros serão substituídos, com grande vantagem, pela conexão direta entre pequenas unidades de conhecimento com pequenas unidades de problemas.) |
Um dos melhores livros que li foi o Seven Habits, de Stephen Covey. Lembro do lugar em que eu estava, e da sensação aguda que este livro me trouxe. Eu tinha ímpetos de cair da rede (em que estava deitado), em várias passagens dele. O impacto foi tão forte, que, ao terminar a leitura, procurei entender porque ele tinha sido tão bom – para mim. O que concluí, naquela ocasião, uso como premissa até hoje:
- o livro continha muitos conhecimentos de que eu necessitava, no momento;
- havia muito pouco, nele, que não me interessasse (todo o excesso de informação é uma contra-informação!)
- ele estava escrito de uma forma inteligível e agradável – para mim.
- compreensão – eu entendia tudo;
- novidade – eram coisas que eu não sabia;
- velocidade – não ia muito rápido, nem muito devagar, as histórias que enfeitavam os conceitos estavam na dosagem certa;
- utilidade – o mais importante de tudo: eu percebia que tinha aplicação prática para o que ele me trazia e, mais ainda: ele estava me trazendo soluções para problemas que eu estava enfrentando, naquele momento.
O conhecimento também me pode nos ser trazido por um consultor. O consultor pode ser caríssimo – se cobra pouco, mas, o que ele traz, não é aproveitado. E baratíssimo – se traz uma solução para um problema real. Mesmo que cobre caro. Aprendemos a valorizar o CDA: Consultor Decisivo e Aceito. É aquele para o qual eu dirijo uma pergunta, e ele a responde de forma conclusiva. Não enrola. É resolutivo, como estamos dizendo hoje. Decisivo, dizíamos quando conhecíamos menos da teoria do assunto. Mas precisa, também, ser aceito. Ou seja, o que ele diz, eu vou fazer. Não vou checar com outros, pensar no assunto, estudar mais um pouco, fazer um testezinho. O CDA é muito barato. Mas sua efetividade não depende apenas do que ele conhece. Depende de como eu valorizo o problema. Valorizar o problema de forma correta, e ter um CDA, são importantes atributos de um processo de gestão do conhecimento…
Caso recente: um CD, grande amigo meu, perguntou a seu cliente, de nome Arnaldo, porque não fazia o que tinha sido combinado. O Arnaldo explicou, dando algumas voltas, que não era fácil, que ele precisava convencer as pessoas que a ele se reportavam, cada qual tinha suas idéias, não aceitavam o que ele dizia, embora fosse tão claro…
-“Ah, entendi”- disse meu amigo. “Tu também precisas lidar com muitos Arnaldos”.
Não é fácil ser um CDA.O mesmo se dá com o Grande Livro. Muito mais do que o que o escritor sabe, vai depender do que preciso, e de como ele se comunica comigo. E esta forma de comunicação, é a minha. No caso do Seven Habits, o que me impactou foi a edição em inglês. Eu leio inglês, mas sou bem melhor no português, reconheço. Tempos depois, a tradução do livro me cai nas mãos. Nem parecia o mesmo. Além de eu já não ter mais o mesmo problema, a editoração não era a mesma. As letras eram menores, o texto ocupava menos a página, o papel era mais liso. Comparei os dois livros, agora. Tenho bem claro que a editoração do primeiro que li me é muito mais simpática do que o traduzido. Faz parte — do processo de comunicação.
Quando estudava engenharia, muitos bons livros técnicos eram em alemão. O STAHL IM HOCHBAU era receitado pelo professor de estruturas metálicas, que não era descendente de alemães e, tenho a certeza, entendia bem os números, mas tinha dificuldades com o texto. Aquele livro tem uma diagramação simplesmente perfeita. Dava prazer folhá-lo, a forma pela qual alternava figuras, textos e números. Era fácil achar o que se procurava. Era agradável navegar pelas suas letras de diversos tipos, com negritos, itálicos, caixas altas e tudo o mais… O Stahl im Hochbau era o Google dos livros. Eu chegava a folhá-lo, e ler textos, mesmo que não estivesse precisando do conhecimento, no momento. Ele me transmitia prazer em aprender.
Quando, em 1964, a Revolução Militar paralisou as obras da Refinaria, ficamos algumas semanas com poucas coisas para fazer. Na ocasião, me caiu na mão um manual da Ericsson, que explicava como funcionava o telefone, lá por dentro. Era um livro admirável, nunca vi nada parecido. Se remetia a um texto já referido, ele não dizia só o número da página: reproduzia o texto. Se uma figura era necessária na continuação da explicação, nas páginas seguintes, a folha em que ela estava era desdobrada, ficava para fora, e podia ser mantida debaixo dos olhos (e das eventuais anotações) enquanto se estudava o assunto. Quem editou aquele manual tinha muita empatia pelos seus leitores…
Quando se projeta uma instalação de proteção contra raios, existem opções de custos e tecnologias muito diferenciadas. Falava-se num cone de proteção, havia os pára-raios radioativos… Em valores absolutos, era um item de custo importante, no orçamento de uma siderúrgica… Me caiu na mão um manual alemão, o Blitzschutz, que matou a cobra e mostrou o pau. Também tinha desenhos caprichados, coloridos onde importava (trajetória do raio, por exemplo), páginas com figuras que se abriam para poderem ser acompanhadas durante a leitura da norma… Mas era um CDA de quebrar paradigmas! Explicava que o pára-raios radioativo funciona bem, quando não há vento, pois o temporal dispersa as partículas radioativas e seu efeito desaparece… Mostrava como aproveitar as estruturas metálicas dos prédios – inclusive armaduras de concreto armado – para conduzir a descarga até o solo. Nosso custo de instalação, graças a ele, foi 10% do que seria, usando técnicas tradicionais. Não sei dos outros – mas aquele exemplar do Blitzschutz valeu o seu preço…
O Scienza delle Costruzioni, de Odone Belluzzi, da resistência dos materiais, era em italiano – e receitado pelo professor da cadeira, neste caso, um descendente de italianos, que dominava o idioma. Também neste eu tinha consciência de que ele me dava prazer em outras coisas que não o conhecimento de que eu necessitava. Me aprazia ir aprendendo italiano, por exemplo. A sua exposição era, didaticamente, perfeita. Ele ensinava, era como se fosse um excelente professor. Daqueles que são bons em qualquer matéria, não importa o que nos apliquem, saímos da aula felizes e entusiasmados. Fui conferir, agora. Ele tem uma diagramação limpa. Mas nada que justificasse que um estudante que economizava para comprar livros usados, dos colegas mais velhos, não descansasse enquanto não tivesse conseguido adquirir os 5 volumes da coleção. Mesmo que, nesta ocasião, já se passassem dois anos da necessidade do texto como apoio à aula (o problema a resolver, na ocasião).
O Neufert era o vade-mecum, o quebra-galho dos arquitetos. Para qualquer projeto, quando precisas saber a altura de uma mesa, como dimensionar uma escada, estas coisas práticas – eles achavam a resposta no Neufert. Eu não cheguei a ter um, era caro, mas o consultava muito, na biblioteca. O Neufert era um livro de soluções.
Para mim, como engenheiro civil, a coleção do Aderson Moreira da Rocha tinha este estilo. Colegas e professores diziam que ele era livro para engenheiro picareta, por que explicava de forma clara como fazer, sem perder muito tempo com o porquê. Mas, na calada da noite, certamente, todos recorriam à ele, principalmente quando tinham que sair do trivial – calcular uma viga à torção, por exemplo. O principal produto do livro do Aderson era, também, ajudar numa tarefa que tinha que ser feita…
Quando ingressei numa empresa siderúrgica, para conseguir dialogar com colegas e fornecedores, começaram a me faltar as palavras. Um colega me deu, de presente, o seu Chiaverini. E eu fui lendo o livro, pulando de um capítulo para outro, sempre para suprir uma necessidade premente de conhecimento naquele dia. Era fácil de achar, fácil de entender, mesmo para quem, como eu, não tinha o curso de metalurgia. O Chiaverini foi, para mim, outro CDA.
TOTAL QUALITY – An executive guide for the 1990s, editado em 1990 pela Consultoria Ernst & Young, foi outro livro destes que, na época, me maravilhou. Era como se ele conversasse comigo. O estilo, a editoração, o nível do conteúdo, tudo se adaptava às minhas necessidades, naquele início de jornada em que todos estávamos deslumbrados com a descoberta do TQC, e procurávamos referências, oportunidades de aplicação, explicações de conceitos, receitas para aplicação… Há cerca de três anos atrás conheci, num fim de expediente, um guru da qualidade numa empresa muito grande. Ele tinha um currículo invejável de realizações na área, sempre atuando na linha de frente, como gerente responsável pela operação, e não como consultor interno. Quando eu lhe fui apresentado, me surpreendi quando constatei que ele carregava consigo, cheio de papeizinhos e anotações, o velho Quality in the Nineties...
Para mim, a obra prima do Falconi é o livro que tem por título O Valor dos Recursos Humanos na Era do Conhecimento. Eu assisti ao filme e li o livro depois: foi o tema da sua palestra magna, num daqueles memoráveis eventos no Transamérica, em São Paulo. A palestra não terminara, eu já tinha saído da sala, comprado o livro, e retornado com o primeiro exemplar.
O livro – na realidade um caderno — tem apenas 54 páginas, com letra enorme, cheio de figuras, itenizações, sublinhados. Ainda hoje, relendo-o, não consigo encontrar uma palavra que se possa eliminar, por inútil. É uma maravilhosa seqüência lógica de slogans admiráveis, conduzindo o leitor no aprendizado de um novo conceito de valorização do conhecimento humano…
…. as atividades ligadas ao atingimento de metas demandam conhecimento…
…. habilidade é a utilização do conhecimento para agregar valor para o produto…
….quem tem muitas habilidades, tem valor para o mercado e, portanto, tem empregabilidade!
Vale a pena relê-lo.Já que estamos no assunto conhecimento: outra obra-prima, de origem japonesa, também editada pela antiga Fundação Cristiano Ottoni, é um caderno traduzido de um trabalho da Komatsu, denominado TREINAMENTO NO TRABALHO PARA SUPERVISORES. Na página 71, o nome dos 60 japoneses que contribuíram com o livro. Cada página (são 58) apresenta um caso, tem uma figura e “conselhos”. O livro, sobre treinamento no trabalho, é dividido em três capítulos: – Como fazer os subordinados entenderem o “modo de pensar” sobre o trabalho; – Como motivar os subordinados; – Como desenvolver a capacidade (a vontade de aprender). Não vi nada mais prático – útil e simples — sobre este assunto. ]]>