por que (ou melhor, para que) deve ser estimulado, a fim de se criar um ambiente de inovação.
E verificamos ainda que, em muitos casos – talvez, na maioria deles – a rejeição do operador por uma tarefa para a qual desconhecia o para que tinha outra razão, mais importante do que o desconhecimento: a tarefa poderia ser feita de maneira mais prática, ou, mesmo, eliminada…
Se revisarmos episódios que vivemos, sob este ponto de vista, vamos nos surpreender em quantos deles a causa da dificuldade que tivemos estava, justamente, na falta da informação do para que.
Uma linha de zincagem de fios de arame requer operadores cujo hobby deveria ser a filatelia. Uma linha de 50 fios tem, para cada um deles, pelo menos 30 detalhes cruciais a serem cuidados – e isto num ambiente em que 3 turnos, calor, esforço e emanações de ácidos não estimulavam o carinho com detalhes.
Um exemplo: se na saída do último banho não houvesse certo montinho de um determinado pozinho – o produto final apresentava graves defeitos de superfície, facilmente perceptíveis pelo cliente. O rolo todo poderia ter que ir para a sucata.
Era praticamente impossível manter aqueles 50 montinhos, perfeitos, 24 horas por dia – até o dia em que aprendemos a explicar, para os operadores, qual o papel dos montinhos, porque eles eram importantes.
Porque nós, engenheiros, até então, apenas sabíamos que eles eram necessários – mas não sabíamos explicar porquê. |
Uma das maneiras de aprender – e gravar – o porquê é fazer, intencionalmente, o errado.
Por exemplo: deixar duas linhas funcionando, uma sem, outra com o pozinho, e olhar a diferença. Perdes alguns metros de arame, mas vale a pena.
Os japoneses nos ensinaram a passar algumas peças com defeitos intencionais, pelo laminador, apenas para mostrar a importância do defeito. Nós passávamos muitas, mas sem querer. Bastaram passar algumas, por querer, para impactar todo o pessoal – e principalmente, nós próprios, os sabidos.
Faz um pequeno entalhe, com uma lima, num tarugo de 1400 kg de aço, antes de passá-lo pelo laminador. A conseqüência pode ser uma maçaroca que para a produção durante uma boa hora.
Fazê-lo intencionalmente é, simplesmente, inesquecível…
Havia um poço, profundo e estreito, quente e úmido, ao lado da máquina de lingotamento contínuo. Periodicamente, um operador precisava descer, pela escada estreita, até o fundo de 6 metros, para ver se a bomba estava funcionando.
Ele ia, vezes sem conta, a bomba sempre estava OK, e ele acabava raciocinando que a decida era um sacrifício inútil. Passava a ir até a metade, e voltar, dizendo que estava tudo bem.
Não por preguiça: por não entender o valor real do que estava fazendo. |
Um diretor de produção, entusiasta da capacitação dos operadores, organizou cursos diversos para todos eles.
Eram cursos básicos de português, matemática, pneumática, hidráulica, lubrificação, eletricidade…
Certo dia, ele estava com o rascunho de um novo curso de eletricidade na sua frente, e perguntou:
-“Alemão, tu que és eletricista, me dá uma olhada, o que achas deste curso de eletricidade?”
O alemão deu uma rápida folhada no grosso volume, e perguntou:
– “Para que serve este curso?”
– “Ora, é muito importante que todos tenham noções… etc. etc….”
Depois de alguns minutos, combinaram que, antes de aplicar o curso, perguntariam aos chefes de área
“o que vai acontecer de diferente, na área de produção, depois deste curso ter sido aplicado a todos os operadores”
Uma primeira pesquisa foi feita de forma equivocada.
Perguntou-se, aos chefes
“para que deveria servir o curso”
que estava sendo programado. As respostas foram evasivas, desfocadas, não trouxeram a informação que se esperava.
O chefe de treinamento teve a humildade de refazer o teste, perguntando, com clareza:
O que acontece hoje, na sua área, e não vai acontecer mais, depois que for dado um curso de 16 horas sobre eletricidade?”
A pergunta certa mudou o teor das respostas:
- não se vai mais trocar fusível errado
- não se vai mais deixar cabo desprotegido
- não se vai mais deixar instalação elétrica sem aterramento
- os quadros elétricos vão ser mantidos limpos
- conectores críticos vão ser mantidos apertados…
Estas respostas foram dadas ao técnico que elaborara o curso.
O teor mudou completamente.
Em vez de lei de Kirchhoff e de Ohm, experiências vivenciais, mostrando como
- pó conduz eletricidade
- cabo fino queima
- contato frouxo torra o cabo
- tirando o aterramento do quadro, levas choque
fiozinho fininho também dá choque…
A zincagem da fábrica de correntes tinha um problema da pior espécie: era descontínuo. De repente, o produto ficava sem brilho, e com bolhas. Por mais que se procurasse a causa, anos se passavam, e não se resolvia o problema.
Professor famoso esteve na planta. Reuniões de engenheiros encaminhavam soluções, mas eram paliativos. Os fornecedores de aditivos experimentaram muitas alternativas, e nada.
Até que, por iniciativa do tal de TQC, se formou um grupo de trabalho de operadores, para tentar descobrir a causa do problema.
Um pareto, uma espinha de peixe, um 5w1h, e em duas semanas a solução estava implantada.
Causa: o operador esquecia-se de colocar o aditivo.
Solução: quando colocava, pendurava uma placa debaixo do relógio, anotando a hora em que tinha feito a troca.
Nunca parou de dar certo.
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