Shu Ha Ri

deixam ver uma receita de sucesso. Nós vamos lá, e voltamos com fórmulas mágicas.
O novo conhecimento há muito tempo, estava disponível, no Japão, em japonês; a forma de trazê-lo, vendê-lo, aplicá-lo – é o que agregaria valor aos nossos produtos…


 
Quando surgiu, entre nós, o 5S, os S não eram 5: eram 9.
Na primeira empresa em que vimos sua implantação, no Brasil, adotou-se, por simplicidade, o 6 S.
Porque hoje todos falam em 5 S?
O grande arauto da novidade, para o Brasil, foi o Benatti. Foi tão brilhante no seu trabalho de tradução e venda, que a sua versão acabou como que oficializada, entre nós.
Benatti teve o cuidado de nos ensinar que cada S correspondia a um ideograma japonês, que tinha muitas interpretações possíveis.
Um deles, por exemplo, significava “as carpas nadam contra a correnteza”.
Ele deu a sua interpretação, mas daí a torná-la rígida, dependeu dos que geriram, em diversas fases, a implantação deste conhecimento.
Na campanha do Rio Grande o pessoal adotou o SOL no CAMPO.
Útil e simples. Prático, enfim. Sem complicações:

  • Separar
  • Organizar
  • Limpar

No resto é que a gente costuma se perder, dando chás de explicação por interpretações, para os S seguintes, que não são tão óbvios.
Mas Benatti nos ensinou, também, que os 5 S evoluem, passam do mundo das coisas, para o das ações e, finalmente, para as do coração.
Depois de separar os objetos desnecessários, há que separar as ações que são desnecessárias; mais adiante, separar as más idéias, os maus princípios.
Não conheço caso de aplicação prática, integral, deste conceito.
Mas faz muito sentido, até porque muitos dos programas de 5 S se deterioram rapidamente.

Em vez de 9, ou de 5 S, quem sabe ficamos apenas em 3 – como no SOL – e giramos o PDCA em cada uma destas etapas, fazendo-as evoluir além do mundo das coisas ?

Um exemplo real: num hospital, em que o 5S estava bem implantado, se usou esta segunda volta do terceiro S para combater um dos problemas não resolvidos dos hospitais: a acuracidade das prescrições médicas. Pois escrever de forma pouco clara não é um forma de sujeira, e não aprendemos, no L do SOL, que melhor do que limpar é não sujar?

Mudar os desgastados 5 S para um SOL com novos enfoques, pode significar uma grande oportunidade de descoberta de pequenos tesouros – que sempre estiveram à nossa disposição.


 

Um parêntesis.

A pergunta que não quer calar: quando vamos tornar obrigatório, curricular, o 5 S nas 3 primeiras classes do primeiro grau?

Como educação, transmissão de valores, é fantástico.

Vimos operários mudarem o ambiente em suas residências, depois de viver os benefícios do 5 S no seu trabalho.

É uma mídia extremamente eficaz para implantar/reforçar valores.

Não entendo ou, pior, entendo, por que não se faz….


 
Copiamos o 5W1H, as perguntinhas quem, quando, o que, como, onde, porque, para fazer um plano.
Pessoas de todos os saberes se empolgaram com uma ferramenta tão simples.
Há quem adicione um segundo H (how much!?).
Os que sempre são utilizados são o quem, o que e quando.
O que o método adiciona é exigir uma explicação do como – do qual o onde é um detalhe.
Mas, nos inúmeros 5W1H que tenho visto por aí, a maior falha está no why.
Em dois de três casos de 5W1H, o why simplesmente foi esquecido.
E o pra que é, de longe, o mais importante de todos.
É o que pergunta

o que paga a conta ?

do que os quem gastam, fazendo oquês em quandos, obedecendo, eventualmente, a comos e ondes..


 
Voltemos ao Shu Ha Ri.
Um significado possível é
obedeça
entenda
crie.
Certamente já haverá outros.
Vamos explorar a interpretação acima, ela explica o raciocínio que seguíamos antes de partir em busca da solução inovadora.

Shu = primeiro, obedeça ao mestre. Faça!

Ha = depois, busque entender as causas, os porquês.

Ri = só depois, comece a exercer sua criatividade, a inventar…

No processo de busca de soluções, significaria:
Shu = suba a escada dos 7 degraus, aplique o conhecimento que está disponível;
Ha = antes de tentar o novo, tente entender as razões especiais que justificam esta caminho.
Ri = entendido o porquê, vá em frente…


 
Em fins da década de 70, se bem me lembro, se iniciou um programa que buscava desenvolver a criatividade de operadores numa operação em Pernambuco.
No entanto, era bem claro que o que a produção precisava, na época, desesperadamente, não era o Ri.
Era o Shu.
A disciplina, de fazer 24 horas por dia, 365 dias por ano, o que hoje chamamos de melhores práticas — e que na época tinham o nome de padrões.
Era o caminho mais curto para ter resultados.


 
Tempos depois, o diretor local era o Somma, uma pessoa essencialmente pragmática.
Vinha da área de Sucata, era o que chamávamos de bodegueiro: vivia e entendia o negócio, esperto, excelente negociador, objetivo.
Conseguimos, depois de alguns meses, vender-lhe a idéia de iniciar um programa de qualidade na sua Usina.
Ele foi Shu puro:
– “Alemão, estamos em agosto. Até janeiro, vou dar ordem a meu pessoal para fazer tudo o que mandares. A partir de fevereiro, vamos fazer do nosso jeito, e não te quero mais ver por aqui.”
Foi uma das implantações mais exitosas que tivemos. O Gonzaga e o Nishio foram os baluartes que nos tornaram dispensáveis a partir de fevereiro…


 
Na Cosigua, estávamos com assistência técnica da Nippon Steel. Uma das medidas que tínhamos que fazer exigia que se dividisse uma espira de arame em 26 partes.
Um de nós, logo protestou:

– “Vamos dividir em 24, é muito mais fácil, dá no mesmo…”

O japonês não aceitou o Ri antes do tempo. Foi Shuíta, se me permitem o trocadilho.
Meses depois, descobrimos o RA: a divisão prescrita visava cobrir efeitos de superposição das espiras no leito de resfriamento…


 
Numa das nossas missões ao Japão, um dos supervisores de fábrica nos mostrou três círculos de atuação.

  • Num primeiro, mais apertado, estão as pessoas experientes, que decidem rápido, que resolvem as crises no dia-a-dia. São insubstituíveis. O seu cérebro está carregado de conhecimento acumulado, disponível on-the-job, real time, etc….
  • Num círculo um pouco mais amplo estão os planejadores. Que não estão aptos a resolver as crises, mas que as analisam, com fatos e dados, e procuram evitá-las. São pessoas bem formadas, analíticas, científicas. Não fossem elas, o dia-a-dia de heróis e bombeiros não cessaria nunca.
  • No círculo mais externo estão os que criam o novo, que inventam. Disse-nos o expositor: os mais velhos são vitais no círculo interno, mas no externo precisamos de jovens….

Outra forma do Shu Ha Ri, de quase 40 anos atrás…


 
No curso de padronização que montamos, naquela época, adotamos a diretriz de só editar um padrão (procedimento) se o mesmo fosse

a melhor solução para evitar um problema real, que está acontecendo, aqui, e agora.

 
Só numa segunda etapa nos preocuparíamos com o que poderia acontecer, se uma pessoa, que hoje resolve, viesse a faltar.
E lá adiante, quando as duas etapas estivessem sob controle, é que deveríamos nos preocupar com problemas que ainda não aconteceram.
Os imagina se…


 
Com o Percy, ainda na Refap, aprendi outra lição de ouro.
Segurança contra explosão, numa refinaria, é um dos pontos de maior preocupação.
Neste caso, a técnica do imagina se… é mandatória.
Mas, por vezes, se depois de uma longa e exagerada seqüência de imagina se, ainda nos preocupássemos com uma lacuna, o Percy nos dizia:

– “Neste caso, vai para casa e busca tua irmã para olhar o incêndio”.

Na falta dos FMEA, dos COSO etc.., era o bom senso orientando a aplicação do conhecimento.
 
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